O caso da terceira pista em Guarulhos

Os brasileiros hoje estão inseguros diante de um meio de transporte de especial importância, principalmente para nós brasileiros, que somos os pioneiros da aviação mundial graças à figura espetacular de Santos Dumont. Esse orgulho nos trouxe a confiança que permitiu o crescimento do Brasil no setor aeronáutico.

No momento em que o sentimento de receio e desconforto diante do transporte aéreo prevalecer as perspectivas de crescimento do setor serão prejudicadas. Não se investe num setor sob a aura da desconfiança. O acidente aéreo da Gol, a falência da VARIG, o acidente da TAM e agora o fechamento da BRA, sem falar dos escândalos econômicos na INFRAERO (estatal que administra os aeroportos) e dos problemas de gestão da ANAC (Agência que regula as operações aéreas), são acontecimentos fortes demais. Para mudar esse clima de incertezas não basta que o país esteja vivendo um período de crescimento econômico, é necessário ações de governo que tranqüilize a população e demonstre que é possível confiar no sistema de proteção ao Vôo Brasileiro.

Diante disso o governo reage, cria CPI, troca os diretores da ANAC e INFRAERO, mas os problemas continuam, haja visto o encerramento das operações da BRA e os anúncios de obras milionárias inúteis. É isso mesmo, recentemente o presidente da Infraero , Sérgio Gaudenzi, anunciou a construção de uma terceira pista em Guarulhos (SP), que custará aos cofres públicos do governo federal R$ 800 milhões. Desse total, R$ 600 milhões serão utilizados na desapropriação de cerca de 6.000 famílias que moram no local onde a pista será construída. Tudo isso para construir uma pista tecnicamente inútil e inviável, conforme palavras do engenheiro convidado pelo próprio Governo para avaliar o projeto, Corrado Balduccini e a partir de um estudo recente do Instituto de Tecnologia em Aeronáutica, que confirma o que diz o engenheiro.

Está evidente que uma das causas de todas as maselas que sofre o País é a falta de entrosamento e comunicação entre os órgãos responsáveis. Jamais o presidente da INFRAERO poderia anunciar a construção de uma obra de tal vulto sem antes submetê-la aos órgãos do próprio governo, responsáveis pela aprovação de projetos de construções aeronáuticas. Mais especificamente, neste caso, cabe ao DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo do Comando da Aeronáutica) a criação de um novo Plano Específico de Zona de Proteção de Aeródromos para o Aeródromo de Guarulhos. Em que, certamente, seria criada uma solução para a operação simultânea das duas pistas ao invés da construção de uma terceira pista paralela, coisa que não existe similar no mundo.

Vimos aqui o último capítulo de uma novela que iniciou alguns anos antes do acidente aéreo da Gol. O Sistema de Proteção ao Vôo do Brasil já se orgulhou por estar entre os melhores do mundo. O que aconteceu? Leia nos próximos capítulos.

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